domingo, 27 de janeiro de 2013

Começando

Passado -se três dias na estrada; Antônio persistia com suas piadas e cativava na venda do sal; mercadoria que tinha de ser erradicada para que meu destino inicial e de meu fiel e velho cão se tornasse real. Eis que paramos em uma cidade já próxima - Salinas; um lugar de beleza que não havia experimentado antes; pelo menos não da maneira que ocorreu.


Em Salinas, fui apresentado as varias mulheres que os caminhoneiros possuem na estrada; umas mulheres da própria sorte, outras apenas mulheres. Uma delas me apresentou a uma menina que tinha uns 19 anos; seu nome era Meire. Interessado; permaneci na defensiva e na observação; quando ela então achegou-se e perguntou sobre meu cão.
- Porque ele não anda? questionou-me.
- Ora; ele sofreu um acidente; um ônibus passou por cima dele, deixando-o a mercê da sorte.
- Quando foi isso? indagou ela.
- No dia do fim do mundo!
Com estranheza ela me olhou sem entender o que havia dito; mas expliquei a ela o que se tratava.
- Foi no dia 11 de agosto de 1999.
Lembro-me bem da data; pois fui marcado pelas circunstâncias com ferro neste dia. Pois tratava-se de uma brincadeira adolescente e de uma infantilidade tremenda. No dia em questão; fui ao colégio no intuito de me divertir, a final; noticiários afirmavam o fim da humanidade segundo Nostradamus; porém, tinha uma certeza de que nada ocorreria; por tanto; como de costume despedi-me de minha mãe com uma frase rotineira e em alguns aspectos depressiva a certos aspectos.
- Se eu não voltar; saiba que eu te amo!
Segui em direção do meu cão - PITU - e beijei-o e fiz meu costumeiro sinal da cruz e disse olhando aos céus:
- Que minha proteção seja sua.
Para um garoto do colégio; havia poucas coisas em que eu me apegava; por tanto, meu cão Pitu era meu companheiro.
Na escola, muitas brincadeiras sobre o possível fim do mundo; que com estranheza; nem aula tive; saindo um pouco mais cedo e indo direto para casa. Porém; minha chegada era prevista; minha mãe olhava de longe e com preocupação. Corri até ela e perguntei o que ocorrera.
- o Pitu fugiu; não sei onde está e já faz horas.
Corri e chamei pelo nome diversas vezes; era quase meio dia e com o passar do tempo minha preocupação me tirava a noção do tempo.
Eu estava exausto quando percebi que havia desistido.
Quando regressava para casa de minha mãe; eis que vejo meu irmão Nicholas; segurando em seus braços um cão molhado, sujo e com sangue.
Ao vê-lo naquele estado desabei e chorei. Brandi minha ira; pois me considerava traído.
- O que combinamos? Indaguei aos céus.
- Minha proteção; o que ocorreu?
Meu irmão e mãe estranharam; perguntando o porque daquilo. Entretanto; minha mãe persistiu.
- Não há culpados meu filho. Apenas vitimas.
Pitu ainda estava vivo; mas muito debilitado. Como poderia ajudar naquele momento; pensei comigo mesmo e achei uma solução - Meu pai.
Meu pai é um homem militarizado; responsável, de face fechada e pouco hospitaleiro as vezes. Sua forma de criação nos filhos refletia a instituição que servia; pois era de hierarquia; sendo ele (meu pai), seguido de sua esposa e dos filhos; que por sua vez respeitavam as idades.
Jamais poderia chegar a ele sem antes passar pela minha irmã mais velha e por minha mãe. Porém; naquele dia fui direto ao sargento e me esqueci de seus soldados.
Ele me olhou e disse.
- Vamos sacrifica-lo. Nunca gostei dessa historia de você ter um cão.
Antes que eu falasse; persistiu e disse:
- Isto veio em boa hora.
Atônico com esta situação; nada podia fazer. No final; minha mãe o convenceu.
Meu cão sobreviveu. Agora estávamos na estrada; voltando para a cidade que havia lhe tirado as patas traseiras.
....
Enfim; não mencionei esta historia a Meire; pois queria conforto; alguem com quem conversar coisas fúteis ou sem logica; apenas para passar meu tempo naquela cidade e quem sabe; viajar mais tranquilo.
Antes de nos beijar-mos; Meire disse algo muito especial que me pegou inesperadamente.
- Você é fiel ao cão e ele a você; porém; vai larga-lo em uma cidade e partir para outra. Antes que se lembre; ele já não estará mais aqui.
Fiquei me sentindo um monstro, mas aquilo se perdeu quando fui beijado. Estávamos na praia, sozinhos e a noite.
No dia seguinte; pegamos a estrada; eu, Antônio e o caminhoneiro. Faltava apenas quatro horas até a cidade de Belém. Meu coração se inflamava; todos os meus amigos residiam ali. Era uma euforia tamanha, que não me importei com o cansaço dos dias anteriores ou da noite que havia passado.
Durante os quilômetros finais; estava na parte de cargas do caminhão imaginando uma conversa com Pitu. Obviamente que as respostas eram minhas; mas persisti.
- Você vai ficar bem, não vai?
- Eles vão cuidar bem de você!
- Não vou esquecer de você; afinal; tu és meu amigo!
Ele me olhava cansado, como se me condenasse.
Naquele momento, começou a chover e eu a chorar.
Estávamos na cidade de Belém.

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